De olho no trabalho

FÉRIAS, COMO TE QUERO?

Matheus Marotta
Divisão de Instrução e Pesquisa

Você já se perguntou qual a duração ideal de umas férias? Quanto tempo é necessário para que você consiga, de fato, descansar da atividade laboral exercida continuamente? Ou ainda, o que é melhor: usufruir todos os dias de férias de uma vez ou marcá-las em períodos mais curtos? Provavelmente, você já se pegou fazendo essas perguntas, principalmente no momento de definir, junto à chefia imediata, os períodos de férias que pretende usufruir, conforme previsão contida nos arts. 99 e seguintes da Lei nº 7.863/99 (Estatuto dos Servidores da CMBH).

A Dra. Jessica De Bloom, pesquisadora na Faculdade de Economia e Negócios da Universidade de Groningen, na Holanda, resolveu investigar essa relação entre as férias, a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, e uma questão principal a intrigou: por quanto tempo ainda conseguimos perceber o “efeito-férias” – aquela sensação boa de descanso e leveza que experimentamos nesse período – após o retorno ao trabalho? O estudo, denominado “How do vacations affect workers’ health and well-being?”, nos foi gentilmente enviado pela autora, e trouxe conclusões reveladoras para dúvidas que, vez ou outra, nos acometem.

Para alcançar os resultados, De Bloom ouviu profissionais de perfis e ramos de atuação variados, com férias marcadas para três períodos distintos, sendo um mais curto (4-5 dias), um médio (9 dias – férias de inverno) e outro mais longo (16 a 30 dias – férias de verão). Em cada um deles, foram medidos indicadores como estado de saúde, humor, tensão, nível de energia, satisfação e qualidade do sono dos participantes. As medições foram realizadas em momentos distintos, quais sejam, antes, durante e após as férias, tomando como premissa que o chamado “efeito-férias” seria, então, a diferença nos níveis de saúde e bem-estar das pessoas, medidos durante as férias e duas semanas antes do seu início.

A primeira conclusão desse trabalho confirmou estudos semelhantes realizados anteriormente, e não deixa de ser óbvia: sim, as férias afetam positivamente a nossa saúde e bem-estar! É bem verdade que esse efeito não foi notado na totalidade dos participantes, mas sim na maioria, havendo casos em que os níveis permaneceram iguais, ou mesmo decresceram durante as férias, o que se deve a questões particulares (por exemplo, exercício de atividades laborais ou incidentes negativos ocorridos no período). O mais curioso é que, ao contrário do que se poderia imaginar, os índices de melhoria na saúde e bem-estar não demonstraram ter tanta relação com a duração das férias sm si. Na verdade, seu crescimento foi apenas ligeiramente maior em férias mais longas, em comparação com períodos mais curtos.

Outra conclusão interessante diz respeito à curva de intensidade dos efeitos positivos das férias, durante e após o seu término. Aqui, há um lado bom e outro ruim. O bom é que tais efeitos são notados por nós logo no início das férias, independentemente da sua duração. Essa afirmativa, comprovada durante os estudos, foi depois corroborada por uma enquete virtual, na qual mais de 70% das pessoas disseram levar de 1 a 4 dias para “desanuviar” os assuntos de trabalho, e 57% já se consideram totalmente revigoradas após 1 semana de férias. No grupo que tirou férias de 16 dias, o “efeito-férias” alcança um pico por volta do 8º dia e depois começa a cair. Por outro lado, apesar de notado rapidamente, o benefício que percebemos em decorrência das férias também costuma desaparecer de forma quase instantânea, em geral, logo na primeira semana de retorno ao trabalho, independentemente da duração das férias. Isso coincide com o período que as pessoas disseram ser necessário para se aclimatarem novamente ao serviço: quase 80% responderam que retomam a rotina de trabalho normal em até 4 dias.

Isso nos induz a uma reflexão imediata: vale a pena investir nossas suadas economias, algumas vezes até em viagens caras pelo Brasil ou exterior, se os efeitos benéficos se sustentarão apenas por um curto período, desaparecendo logo após o retorno ao trabalho? A resposta só pode ser positiva: para quem gosta dessa atividade, viagens proporcionam prazer, diversão e emoções diferentes da vida rotineira; fortalecem laços familiares; criam resiliência para períodos de stress futuros; além de ajudarem a construir novas relações sócio-culturais e um mosaico de memórias de qualidade, que pode ser acessado sempre que necessário. Não se pode esquecer, ainda, que uma cidade como Belo Horizonte e seus arredores também proporcionam ótimas opções de lazer a curta distância e a preços acessíveis, como parques, museus, feiras e eventos.

Entretanto, mesmo para aqueles que optam simplesmente por ficar em casa, relaxando, sem fazer nada muito além de atividades passivas voltadas à leitura, música, meditação, filmes e séries, a pesquisa demonstra que isso também ajuda a “recarregar as baterias” tanto quanto atividades externas, não havendo relação significativa entre o tipo de lazer praticado e um aumento do “efeito-férias”. Na verdade, este benefício está muito mais relacionado às experiências geradas pelas atividades do que ao tipo de atividade em si. A propósito, um outro artigo assinado pela mesma autora e outros pesquisadores já demonstrou que, “em termos de prazer e bem-estar, as diferenças entre um fim de semana livre em casa e outro longe de seu domicílio habitual pareceram bem pequenas”.

O que importa, então, é que tenhamos aquela gostosa sensação de liberdade e controle sobre como gastar o nosso precioso tempo. “Parece ser plausível que a qualidade das férias é mais importante que o número de dias longe do trabalho” – aponta o estudo. E prossegue: “planejar várias férias curtas no período de um ano pode ser um eficiente remédio para preservar a saúde e o bem-estar.” Na enquete virtual que complementou o estudo aqui comentado, 53% dos respondentes consideraram que a duração ideal de um único período de férias varia de 1 a 3 semanas. Essa linha de raciocínio faz todo o sentido, na medida em que o esgotamento das férias em um período maior implicaria, por lógica, em um período também mais prolongado de trabalho, após o retorno. O rápido desaparecimento dos efeitos positivos das férias acentua essa conclusão.

5 dicas que, segundo a pesquisa, podem otimizar e prolongar o “efeito-férias”:
1 – se possível, marque períodos mais frequentes e menores de férias ao longo do ano, conciliando com um período mais longo (> 8 dias);
2 – evite trabalhar e, se for estritamente necessário fazê-lo durante as férias, assegure-se de estar no controle quanto à definição de prazos;
3 – programe-se para prevenir incidentes negativos (por exemplo, fazendo revisões no carro, se for pegar a estrada);
4 – evite a ingestão de álcool em excesso, o que causa fadiga e prejudica a qualidade do sono;
5 – se viajar, retorne alguns dias antes da data de retomar o trabalho.

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