Voz do servidor

“Esperam que as mães trabalhem como se não tivessem filhos e os eduquem como se não tivessem que trabalhar: a conta não fecha!” (autoria desconhecida)

Essa é uma frase de efeito que você já deve ter ouvido e que dá o tom do desafio de compatibilizar a maternidade com o trabalho remunerado. Maternar é um ato político, é uma função social (de fazer nascer, nutrir, cuidar, educar uma nova geração de cidadãs e cidadãos) que pode ser exercida por qualquer pessoa e que, por questões históricas e culturais, esteve predominantemente associada às mulheres.

Ignorando o provérbio africano que diz “É necessário uma aldeia pra educar uma criança”, ainda vivemos uma cultura de sobrecarga das mulheres e de ausência da maioria dos homens e do Estado na educação das crianças. Um maior envolvimento dos homens e do Estado nessa educação poderia liberar as mães para investir na saúde e nos estudos, fazer política ou ascender na carreira.

Silvia Federici, filósofa italiana, defende a remuneração do trabalho doméstico. Ela diz que “o que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago” – essa frase faria minha mãe corar de raiva!. A Argentina, nossa vizinha, avançou, em 2021, quando apresentou um programa de reconhecimento do tempo de serviço por tarefas assistenciais que permite a aposentadoria de mulheres que saíram do mercado de trabalho para se dedicarem aos filhos. Propostas semelhantes tramitam também no Congresso brasileiro. À primeira vista, pode soar estranho, porém trata-se da tentativa de reparação em reconhecimento ao trabalho realizado por nós, imprescindível à manutenção do sistema capitalista.

Falando em sistema capitalista e por experiência própria, em nenhuma fase da vida das mulheres, as inconsistências desse sistema e a manutenção da vida ficam tão evidentes como no exercício da maternidade. A lógica do trabalho corporativo ainda é machista, hierárquica, patriarcal, mesmo no serviço público.

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